segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mambembe

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim,
correndo no escuro, pichado no muro
você vai saber de mim,
Mambembe, cigano,
debaixo da ponte, cantando,
por baixo da terra, cantando,
na boca do povo, cantando.

Mendigo, malandro, moleque, molambo, bem ou mal,
escravo fugido ou louco varrido
vou fazer meu festival,
Mambembe, cigano,
debaixo da ponte, cantando,
por baixo da terra, cantando,
na boca do povo, cantando.

Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu,
dormindo na estrada, não é nada, não é nada
e esse mundo é todo meu,
Mambembe, cigano,
debaixo da ponte, cantando,
por baixo da terra, cantando,
na boca do povo, cantando.

(Chico Buarque)


domingo, 30 de agosto de 2009

Ela faz cinema

Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual

Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.

(Chico Buarque)


Você não serve pra mim

Não fique triste, não se zangue
Com tudo que eu vou lhe falar
Sinto demais , porém agora
Tenho que lhe explicar
Você comigo não combina
Não adianta nem tentar
Não vejo mais razão nenhuma
Pra continuar
Não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você não serve pra mim
Não serve pra mim
Uma palavra de carinho
Jamais ouvi você falar
Seu beijo tão indiferente
Foi o que me fez pensar
No tempo que eu estou perdendo
No amor que eu tenho pra dar
Deve existir alguém querendo
O que você não quis ligar
Não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você não serve pra mim
Não serve pra mim
Pode ser que alguém lhe queira
Dar um grande amor
Quero que você seja feliz com
Outro alguém
Porque eu não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você não serve pra mim
Não serve pra mim

(Renato Barros)


Me adora

Tantas decepções eu já vivi
Aquela foi de longe a mais cruel
Um silêncio profundo e declarei:
“Só não desonre o meu nome”
Você que nem me ouve até o fim
Injustamente julga por prazer
Cuidado quando for falar de mim
E não desonre o meu nome
Será que eu já posso enlouquecer?
Ou devo apenas sorrir?
Não sei mais o que eu tenho que fazer
Pra você admitir
Que você me adora
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber
Que você me adora
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber
Perceba que não tem como saber
São só os seus palpites na sua mão
Sou mais do que o seu olho pode ver
Então não desonre o meu nome
Não importa se eu não sou o que você quer
Não é minha culpa a sua projeção
Aceito a apatia, se vier
Mas não desonre o meu nome
Será que eu já posso enlouquecer?
Ou devo apenas sorrir?
Não sei mais o que eu tenho que fazer
Pra você admitir
Que você me adora
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber
Que você me adora
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber

(Pitty)


sábado, 29 de agosto de 2009

Malemolência

Veio até mim
Quem deixou
Me olhar assim
Não pediu
Minha permissão
Não pude evitar
Tirou meu ar
Fiquei sem chão...
Menino bonito
Menino bonito, ai!
Ai menino bonito
Menino bonito, ai!...
É tudo o que eu posso
Lhe adiantar
O que é um beijo
Se eu posso ter o teu olhar?
Cai na dança, cai!
Vem prá roda
Da Malemolência...
Menino bonito
Menino bonito, ai!
Ai menino bonito
Menino bonito, ai!...
É tudo que eu posso
Lhe adiantar
O que é um beijo
Se eu posso ter o teu olhar?
Cai na dança, cai
Vem prá roda
Da Malemolência...
Menino bonito
Menino bonito, ai!
Ai menino bonito
Menino bonito, ai!

(Alec Haiat - Céu)

Visgo de jaca

Já caçou bem-te-vi
Esqueceu do sofrê
É o diabo
Gaiolou curió
E calou o mainá
É o diabo
Segurou com o visgo da jaca
Cambaxirra, coleiro cantor
Tal e qual me prendeu a morena dendê
No amor...
São Francisco, amigo da mata
Justiceiro, viveiro quebrou
Mas não viu que a morena maltrata e me faz sofredor
Minha terra tem sapê, arueira
Onde canta o sabiá
E a morena quer me ver na poeira
E sem asa prá voar

(Rildo Hora - Sergio Cabral)


Cangote

Fiz minha casa no teu cangote
Não há neste mundo quem me bote
Pra sair daqui
(uh uh uh)
Te pego sorrindo num pensamento
Faz graça de onde fiz meu achego, meu alento
E nem ligo
Como pode, no silêncio, tudo se explicar?!
Vagarosa, me espreguiço
E o que sinto, feito bocejo, vai pegar
Fiz minha casa no teu cangote
Não há neste mundo quem me bote
Pra sair daqui
(uh uh uh)

(Céu)


Bubuia

Já que não estamos aqui só a passeio.
já que a vida enfim não é recreio.

Eu vou na bubuia, eu vou...

Flutuo, navegando sem tirar os pés do chão,
365 dias na missão...

Na bubuia eu vou...

Subo o rio no contra fluxo,
à margem da loucura,
na fé que a vida
após a morte continua.

eu vou na bubuia, eu vou...

Entoo uma toada em dia de noite escura,
na sequência, na cadência, na fissura...

Eu vou na bubuia, eu vou...

Eu vou suave, bebendo água na cuia.
Olho aberto, papo reto,
o peito como bússula.
Nenhum receio do lado negro da lua,
que me guia, na bubuia.

Eu vou na bubuia, eu vou...

O destino é o mar onde vou me desfazer,
contente a deslizar na correnteza do viver

Na bubuia eu vou...
Eu vou na bubuia, eu vou...

(Céu, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas)





Sobre o amor e seu trabalho silencioso

Vai pegar feito bocejo
ou que só sentido vê
instigado num lampejo
despertado pelo beijo
que o baile parou pra ver
Da marchinha fez silêncio
num silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez

(Céu)




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Céu ao vivo: ótima!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A natureza das coisas

Se avexe não
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada
Se avexe não
A lagarta rasteja até o dia
Em que cria asas
Se avexe não
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa
Se avexe não
Amanhã ela pára na porta
Da sua casa
Se avexe não
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá
Se avexe não
Observe quem vai subindo a ladeira
Seja princesa ou seja lavadeira
Pra ir mais alto vai ter que suar

(Acioli Neto)


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tudo sobre você

Queria descobrir
Em 24hs tudo que você adora
Tudo que te faz sorrir
E num fim de semana
Tudo que você mais ama
E no prazo de um mês
Tudo que você já fez
É tanta coisa que eu não sei
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

E até saber de cor
No fim desse semestre
O que mais te apetece
O que te cai melhor
Enfim eu saberia
365 noites bastariam
Pra me explicar por que
Como isso foi acontecer
Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

Por que em tão pouco tempo
Faz tanto tempo que eu te queria


(John Ulhoa - Zélia Duncan)





quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Amiga

Amiga, perdoa se eu me meto em sua vida
Mas sinto que você vive esquecida
De se lembrar que tudo terminou
Amiga, o pano se fechou no fim do ato
Você não aceitou da vida o fato
Que desse caso nada mais restou

Aquele por quem você se desespera e chama
Por quem você procura em sua cama
Na realidade a muito te esqueceu

Esqueça, refaça a sua vida urgentemente
Que o tempo passa e um dia de repente
A gente chora o tempo que perdeu

Amigo, eu te agradeço por sofrer comigo
Mas tento me livrar e não consigo
De tudo que esse cara foi pra mim

Às vezes, eu penso tanto nele que me esqueço
Que qualquer dia desses enlouqueço
Por insistir num sonho que passou

Se acaso eu jogo a minha juventude à toa
Nas águas desse pranto, me perdoa
E peço o teu conselho sem te ouvir

Mas ele é tudo que mais quero e mais preciso
É o ar que eu necessito e não consigo
Me sufocando se ele não está

Amiga, se quer desabafar conte comigo
Mas se você chorar choro contigo
Amigo é pra essas coisas, estou aqui
Amiga

Amigo

(Roberto Carlos & Erasmo Carlos)

Língua do Pê

Gaparanpantopo quepe vopocêpê
Garanto que você
Nãpão vapai não vai
Nãpão vapai não vai
Compomprepeenpendeper
Bulhufas
Bulhufas
Dopo quepe tempentapamopos lhepe dipizeper
Não tem problema
Não tem problema

Espetapamopos pelaí
Não tem problema
Não tem problema
Espetapamopos espepeperanpandopo coisas pela aí

Smetak tak tak tak (tak tak tak tak tak)
Mariá bababa baba baba
Catuaba
Cachoeira
Vão me procurar na Lapa
Na gruta da Mangabeira
Quarta-feira de manhã
Quarta-feira de manhã

(Gilberto Gil)


Socorro

Socorro, não estou sentindo nada.
Nem medo, nem calor, nem fogo,
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir.

Socorro, alguma alma, mesmo que penada,
Me empreste suas penas.
Já não sinto amor nem dor,
Já não sinto nada.

Socorro, alguém me dê um coração,
Que esse já não bate nem apanha.
Por favor, uma emoção pequena,
Qualquer coisa.

Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva.
Qualquer coisa que se sinta,
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva.

Socorro, alguma rua que me dê sentido,
Em qualquer cruzamento,
Acostamento, encruzilhada,
Socorro, eu já não sinto nada.

(Arnaldo Antunes / Alice Ruiz)


sábado, 15 de agosto de 2009

Cabaret no Morro

Fundaram um cabaret no morro
Cismaram que eu devia freqüentar
Isto é firme, disse mesmo eu lá não vou
Só quero ver quem é que vai me obrigar
O meu cabrocha
Que foi sempre a meu favor
Desta vez também veio contra mim
Não sei porque estou ficando diferente
Já não gosto de malandro
Nem freqüento botequim
E é a minha opinião
Quando eu quero, quero mesmo
E comigo é assim

E vim descendo
Batucando os meus tamancos
Abandonando a malandragem e o barracão
E embora sendo nascida no morro e criada na orgia
Vi que essa gente não tem civilização

E resolvi ali mesmo: Hei de voltar!
Se a vida um dia, se Deus quiser, melhorar
Com um ricaço pendurado no meu braço
Vestido de seda, capote de forro
Civilizarei o morro

(Herivelto Martins)


Meu barracão

Faz hoje quase um ano que eu não vou visitar
Meu barracão lá da Penha que me faz sofrer
E até mesmo chorar
Por lembrar a alegria com que eu sentia
O forte laço de amor que nos unia.

Não há quem tenha mais saudades lá da Penha
Do que eu - juro que não!
Não há quem possa me fazer perder a bossa
Só a saudade do barracão

Mas veio lá da Penha hoje, uma pessoa
Que me trouxe uma notícia do meu barracão
Que não foi nada boa
Já cansado de esperar, saiu do lugar
Eu desconfio que ele foi me procurar...

(Noel Rosa)

Mentirosa

Gosto
confesso que gosto
que às vezes me digas
que sou teu béguin
Gosto
mas juro e aposto
que é tudo mentira
mas sempre faz bem...
Mesmo que mintas a esmo
E digas a todos o mesmo que a mim
Mente
que eu fico contente
enquanto disseres mentiras assim

O amor é feito de mentiras
e mais ama quem mais mente
Ou melhor souber mentir
Mente, que talvez assim prefiras
através dessas mentiras
O teu peito iludir

Deixa
se um outro se queixa das tuas palavras...
Não sabe o que diz!
Juro
que às vezes te aturo
Porque mentes muito
e me fazes feliz
Quando tu fores cansando
das minhas palavras
dos carinhos meus
Mente, que eu fico contente
em crer que a mentira
é a verdade do adeus

(Custódio Mesquita/ Mário Lago)

sábado, 8 de agosto de 2009

Lamento sertanejo

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.

(Dominguinhos / Gilberto Gil)

domingo, 2 de agosto de 2009

Coisa feita

Sou bem mulher de pegar macho pelo pé
Reencarnação da Princesa do Daomé
Eu sou marfim, lá das Minas do Salomão
Me esparramo em mim, lua cheia sobre o carvão
Um mulherão, balangandãs, cerâmica e cisal
Língua assim, a conta certa entre a baunilha e o sal
Fogão de lenha, garrafa de areia colorida
Pedra-sabão, peneira e água boa de moringa
Sou de arrancar couro
De farejar ouro
Princesa do Daomé
Sou coisa feita, se o malandro se aconchegar
Vai morrer na esteira, maré sonsa de Paquetá
Sou coisa benta, se provar do meu aluá
Bebe o pólo norte, bem tirado do samovar
Neguinho assim, ó, já escreveu atrás do caminhão
"A mulher que não se esquece é lá do Daomé"
Faço mandinga, fecho caminhos com as cinza
Deixo biruta, lelé da cuca, zuretão, ranzinza
Pra não ficar bobo, melhor fugir logo
Sou de pegar pelo pé
Sou avatar vodu, sou de botar fogo
Princesa do Daomé

(João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio)


sábado, 1 de agosto de 2009

João Bosco

Maravilhoso. Perfeito. Virtuoso. Enfim, não faltam adjetivos para a apresentação de João Bosco, juntamente com Kiko Freitas (bateria), Nelson Faria (guitarra) e Ney Conceição (baixo), no 4º. Festival de Inverno de Porto Alegre . Mais de 2 horas de excelente música com excelentes músicos. Mais, sempre!

(31/07/2009)

(a.l.k.)

Delicatessen

Jazz +bossa de altíssima qualidade no 4º. Festival de Inverno de Porto Alegre. Qualidade musical que todos os que têm conhecido o trabalho dos gaúchos do Delicatessen atestam. Isso justifica o grande sucesso no Japão, aqui em Porto Alegre; e certamente em qualquer lugar do mundo. Ótimos músicos (Ana Kruger - Voz, Carlos Badia - Violão, Nico Bueno - Baixo, Mano Gomes - Bateria, Participação especial Luis Mauro Filho - piano) e um repertório irrepreensível e nada óbvio. Além disso tudo, Ana Krüger é encantadora.

(30/07/2009)

(a.l.k.)

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