quarta-feira, 26 de março de 2008

Agnus Sei

Faces sob o sol, os olhos na cruz
Os heróis do bem prosseguem na brisa na manhã
Vão levar ao reino dos minaretes a paz na ponta dos arietes
A conversão para os infiéis
Para trás ficou a marca da cruz
Na fumaça negra vinda na brisa da manhã
Ah, como é difícil tornar-se herói
Só quem tentou sabe como dói vencer Satã só com orações
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê
Ê anda, ê hora, ê manda, ê mata, responderei não!
Dominus dominium juros além
Todos esses anos agnus sei que sou também
Mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei
Da arma oculta na sua mão
Meu profano amor eu prefiro assim
À nudez sem véus diante da Santa Inquisição
Ah, o tribunal não recordará dos fugitivos de Shangri-Lá
O tempo vence toda a ilusão
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê

(João Bosco e Aldir Blanc)

Caça à Raposa

O olhar dos cães
A mão nas rédeas
E o verde da floresta

Dentes brancos, cães
A trompa ao longe
O riso, os cães
A mão na testa

O olhar procura
Antecipa a dor no coração vermelho
Senhoritas, seus anéis,
Corcéis e a dor no coração vermelho

O repenque estala, um leque aponta: foi por lá!

Um olhar de cão
As mãos são pernas
E o verde da floresta

Ó manhã entre manhãs
A tropa em cima
Os cães, nenhuma fresta

O olhar se fecha
Uma lembrança afaga o coração vermelho
Uma cabeleira sobre o feno afoga o coração vermelho

Montarias freiam
Dentes brancos
Terminou...

Línguas rubras dos amantes
Sonhos sempre encandecentes

Recomeçam desde instantes
Que os julgamos mais ausentes

A recomeçar, recomeçar
Como canções e epidemias

A recomeçar como as colheitas
Como a Lua e a covardia

A recomeçar como a paixão
E o fogo e o fogo...

(João Bosco e Aldir Blanc)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Gracias a la vida

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros que, cuando los abro,
perfecto distingo lo negro del blanco,
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
graba noche y día grillos y canarios;
martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el sonido y el abecedario,
con él las palabras que pienso y declaro:
madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos, montañas y llanos,
y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano;
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
los dos materiales que forman mi canto,
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos, que es mi propio canto.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

(Violeta Parra)

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Mercedes Sosa

sábado, 15 de março de 2008

Verniz

Eu tenho anseio demais
Sei que não é direito
Desejo nunca deu paz
Mas deixa ardente o leito
Eu sempre fui mesmo assim
Sou meio insatisfeito
Não é um retrato de mim
Mas é o mais perfeito
Com o sonho acordo
Porque com a ilusão me deito
A vida é mais que um prazer
Mas como vem aceito
Não trago nos olhos meus
Nenhum amor desfeito
A ausência não é um adeus
Mas causa o mesmo efeito
Eu tenho mágoa de amor
Mas tudo tem seu jeito
O tempo não cura a dor
Mas enverniza o peito

(Sérgio Santos - Paulo César Pinheiro)

sábado, 8 de março de 2008

Pelas tabelas

Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se toca com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando um cordão
Oito horas e danço de blusa amarela
Minha cabeça talvez faça as pazes assim
Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas
Eu pensei que era ela voltando pra
Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir
A cabeça de um homem que olhava as favelas
Minha cabeça rolando no Maracanã
Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas
Eu jurei que era ela que vinha chegando
Com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se toca com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando um cordão
Oito horas e danço de blusa amarela
Minha cabeça talvez faça as pazes assim
Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas
Eu pensei que era ela voltando pra
Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir
A cabeça dum homem que olhava as favelas
Minha cabeça rolando no Maracanã
Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas
Eu jurei que era ela que vinha chegando
Com minha cabeça já numa baixela
Claro que ninguém se toca com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando um cordão

(Chico Buarque)

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E Roberta Sá canta divinamente.


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