sábado, 17 de julho de 2010

This bitter earth - On the nature of daylight

This bitter earth
Well, what fruit it bears
What good is love
mmmm that no one shares
And if my life is like the dust
oooh that hides the glow of a rose

What good am I
Heaven only knows

Lord, this bitter earth
Yes, can be so cold
Today youre young
Too soon, youre old
But while a voice within me cries
Im sure someone may answer my call
And this bitter earth
Ooooo may not
Oh be so bitter after all

This bitter earth
(Clyde Otis)




Dinah Washington & Max Richter - This bitter earth - On the nature of daylight

(mixed by Robbie Robertson)







On the nature of daylight
(Max Richter)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Chão de Esmeraldas

Me sinto pisando
Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
À Mangueira
Sob uma chuva de rosas
Meu sangue jorra das veias
E tinge um tapete
Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
Que quer se mostrar
Soberba, garbosa
Minha escola é um catavento a girar
É verde, é rosa
Oh, abre alas para a Mangueira passar

(Chico Buarque/Hermínio Bello de Carvalho)

Choro bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons

(Edu Lobo / Chico Buarque)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cry me a river

Now you say you're lonely
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

Now you say you're sorry
For being so untrue
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you

You drove me, nearly drove me, out of my head
While you never shed a tear
Remember, I remember, all that you said
You told me love was too plebeian
Told me you were through with me and

Now you say you love me
Well, just to prove that you do
Come on and cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
I cried a river over you
I cried a river...over you..

(Arthur Hamilton)


terça-feira, 13 de julho de 2010

Alta noite

Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia
Ninguém com os pés na água
Nenhuma pessoa sozinha ia
Nenhuma pessoa vinha
Nem a manhãzinha, nem a madrugada
Nem a estrela-guia, nem a estrela d'alva
Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia
Ninguém com os pés na água
Nenhuma pessoa sozinha ia
Nenhuma pessoa vinha
Nem a manhãzinha, nem a madrugada
Nem a estrela-guia, nem a estrela d'alva
Alta noite já se ia, ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia

(Arnaldo Antunes)


Apelo

Ah, meu amor não vás embora
Vê a vida como chora, vê que triste esta canção
Não, eu te peço, não te ausentes
Pois a dor que agora sentes, só se esquece no perdão
Ah, minha amada me perdoa
Pois embora ainda te doa a tristeza que causei
Eu te suplico não destruas tantas coisas que são tuas
Por um mal que eu já paguei

Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento todo arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Perceber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus

Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus

(falado por Vinícius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto,
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento,
Que dos olhos desfez a última chama,
E da paixão fez-se o pressentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo, o distante,
Fez-se da vida uma aventura errante,
De repente não mais que de repente.

(novamente no ritmo da música)

Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.

Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.

(Baden Powell e Vinícius de Moraes)






Estala coração de vidro pintado





























[para aumentar, clicar]

Texto de Fernanda Young publicado na Playboy onde ela foi capa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Glass N´Glue - Good Enough




I’m easy you know?
Treat me right fuck me good,cause if you don’t I’ll
turn you into a bad dream
into a fucking bad dream
I’m not this little girl, playing the part of an adult
This week i need some care
next week i’m not even there
I think you should try me,
But please don’t try so hard baby
Cause darling i’m easy
Darling i’m easy
Catch me if you can
Cause if you’re not good enough i’ll slip through your hands
Please don’t mess up with me
Cause if you do i’ll turn you into a bad dream
turn you into a bad dream
a bad dream
Turn you into a bad dream
Bad dream
I’ll Turn you into a bad dream
A bad dreeeeam
Into a bad dream, YYYEEEEAAAAHhhhh
I’m not this little girl playing the part of an adult
This week i need some care,
Next week im not even there
I think you should try me (ah ah ah)
But please don’t try so hard baby
Cause, darling im easy
Darling im easy
Catch me if you can
Cause if you’re not good enough i’ll slip through your hands
Please don’t mess up with me
Couse if you do i’ll turn you into a bad dream
Turn you into a bad dream
(Into a bad dream)

Turn you into a bad dream
(Bad dream)
I’ll Turn you into a bad dream
(A bad dreeeeam)
Into a bad dream
Good luck to us
Good luck to us
Good luck to us
I wish you a good luck!
...bad dream......

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Cause Im easy
Darling im easy
Im not a little girl
Im not a little girl
Darling im easy
Im not a little girl
Darling im easy
Im not a little girl

Glass N´Glue - Glass N´Glue

Glass N´Glue - Bipolar




Im walking down avenue a
Im wallking down avenue b
I won’t coat check your shit
I won’t serve all your drinks no
I have much bigger plans
I have much bigger plans
I won’t coat check your shit
I won’t serve all your drinks no!
Im walking down into the park
I wanna see your face light up in the dark
I wanna go to where you are
I wanna hold your hand and look up to the stars
I won’t work in your store
I won’t open your door no!
I have much bigger plans
I have much bigger plans oh ohhhhh!
I’m walking down avenue a
I’m wallking down avenue b
I wanna go to max fish!
I wanna go to max fish!
I want to move to 8 and 3rd
Play my guitar is when life is really worth
Sing you a song hold you tight
And watch the fireplace,time will just fly by
I won’t coat check your shit
I said
I won’t coat chek your shit
I said
I won’t coat chek your Shit
I won’t serve all your drinks noooooo,ohhhhh
I have much bigger plaaanss
I have much bigger Plaaaannnssss

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Intimidade

Tinha um negocinho verde na minha escova de dentes. Tava preso na base das cerdas. Enfiei a unha ali até conseguir tirar. Era um pedaço de alface.
— Linda, tem uma porra dum pedaço de alface na minha escova!
— ...
— Tu andou usando a minha escova de dente?
— Claro que não! – ela gritou da sala.
— E desde quando eu como alface? Eu não como planta e tu sabe muito bem. Por que tu usou minha escova?
— ...
— Linda, por que tu usou a minha escova?

— Eu perdi a minha. Ela perdeu a escova dela.
— Como é que é?

— Perdi a minha escova, droga! Usei a tua uma vez só, não vai te matar.
— Como assim perdeu a tua escova? Como alguém per¬de uma escova de dentes?
— Sei lá, caralho, ela sumiu.
Como faria ela entender que não se usa a escova de dentes de outra pessoa? Linda é assim mesmo. Ela é capaz de perder sua própria escova de dentes. Ela dorme no meu apar-

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tamento nos fins-de-semana e às vezes aparece também nos dias úteis, pra comer minha comida, beber minha cerveja e dormir abraçadinha comigo. Somos como todo mundo, precisamos disso de vez em quando. Ao voltar pra sala, esperava que ela pedisse desculpas por ter usado minha escova. Ela nem olhou pra mim, estava futricando alguma coisa entre os dedos do pé. Eu ainda segurava a escova de dentes, ofendido. Precisava de alguma indicação de arrependimento dela, só pra neutralizar este meu ódio irracional causado pelo pedaço de alface, um ódio que no momento me parecia justificado, e cuja banalidade só pude perceber minutos mais tarde. A indiferença dela me irritou tanto que atirei a escova de dentes na sua direção.
— Agora pega essa merda pra ti.
Eu sei que não precisava. Mas pequenas causas de orgulho e ódio são excelentes motivadoras de atos impensados. Ela catou o cinzeiro de vidro e jogou na minha cara, acertou na testa.
— Qual é a tua? Imbecil.
Dei um tapa na cara dela.
Tirei toda a roupa de Linda e deitei-a de bruços na cama. Ela ainda chorava. Lambi a parte interna de suas coxas. Ela botou os fones de ouvido nas orelhas e ligou o walkman. Depois empinou um pouco a bunda, mas não muito, senão

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sente dores nas costas. Como sempre, começou a falar, agora contando uma história sobre o irmão menor dela, que certa vez trouxe duas tartarugas para criar em casa. Ele construiu um viveiro enorme para elas, com mais de um metro quadrado. Tinha um laguinho, plantas, pedras, uma caverna, tudo que uma tartaruga poderia desejar. Com a cara enfiada entre as nádegas dela, eu podia escutar por trás deste fascinante monólogo o som dos fones de ouvido, era uma fita da PJ Harvey. Mantinha os olhos sempre fechados. Desde o primeiro dia, o irmão colocou folhas de alface no viveiro das tartarugas (creio que não foi proposital a escolha de um epi¬sódio envolvendo alface, deve ter sido uma associação men¬tal inconsciente, não pude culpá-la). No primeiro dia elas não comeram. Nem no segundo. Aproximei o dedo da boca para cobri-lo de saliva. Toquei o cu de Linda, ela interrompeu por alguns décimos de segundo a sua história. Depois continuou, só que mais pausadamente. Tinha parado de chorar, e sorria docemente enquanto falava. O irmão experimentou dar pedaços de carne às tartarugas, mas elas rejeitaram. Depois de cinco dias de jejum, elas estavam bastante debilitadas. Os cascos amoleceram. O cuzinho dela rendia-se, ma¬cio. Enfiei devagar, medindo no mesmo ato violência e carinho. A ternura que sentia por Linda naquele instante era intolerável. Ela ficou quieta por um tempo. Logo depois retomou a narrativa, agora pontuada por expirações curtas e vigorosas. As tartarugas estavam quase mortas, quando ocorreu ao irmão colocar as folhas de alface no laguinho. Os bichos pularam para dentro d'água e devoraram compulsiva-


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mente a verdura. Como poderia saber que só comiam dentro da água? Mas as tartarugas estavam salvas. Peguei um dos fones, botei na minha orelha e beijei Linda até que nossas bocas já não soubessem mais o que fazer. Quando a fita ter¬minou ela disse:
— Vamos no cinema.
(é que logo em seguida ao tapa percebi todo o absurdo daquele nosso enfrentamento, ela nem botou a mão no rosto nem nada, apenas encarou-me incrédula e esperou, pois já sabia que eu pediria perdão, me arrependeria, me sentiria mal, um merda, um filho da puta. Abracei-a com força naquele silêncio que vem depois de todo tapa, apaziguamo-nos, não havia problema que ela usasse minha escova, que usasse qualquer coisa, mas às vezes precisamos de inimigos para descarregar nossa amargura. Realizei meu ataque utilizando como pretexto o primeiro evento disponível e espera¬va que ela me desse razão para que todo o meu pequeno ódio pelo mundo tivesse fundamento. Não fui capaz de ver as coisas do ponto de vista de Linda, que ela pudesse usar a minha escova de dentes caso precisasse era um pressuposto de nossa intimidade, algo importante para ela. Abracei-a e pedi desculpas muitas vezes, ela chorou mas senti-me perdoado, nos beijamos, acontece, a gente briga de vez em quando eu falei, ela sorriu um pouquinho, é, acontece. Fomos para o

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quarto, enfiei a mão por dentro de sua camiseta, acariciei suas costas, a gente se ama, ela ainda chorava.)
Fomos assistir uma comédia romântica bobalhona. Linda adorava melodramas, dizia que "às vezes é bom ver filmes desse tipo". Vinte minutos de caminhada até o cinema, escurecia. Antes do filme sentamos para tomar um café. Linda fumou três cigarros, quantidade que ela costuma consumir em dois dias. Não gosto quando ela fuma, pega um gosto horrível na boca. Na bilheteria do cinema, vimos o cartaz do filme escolhido. Tinha a Julia Roberts. Entramos atrasa¬dos numa sala de projeção com uma dúzia de sujeitos espalhados aos pares pela platéia. Sentamos numa fileira do fundo. Quando o filme começou ela encostou a cabeça no meu ombro. Segurei sua mão.
O início era o mesmo de todo filme norte-americano. Uma divertida cena introdutória, seguida da apresentação de cada um dos personagens. Linda me sussurrou no ouvido que precisava ir no banheiro. Depois que saiu, desliguei minha atenção do filme e caí num fluxo de devaneios. Imaginei minha vida sem Linda e compreendi o quanto verdadeira¬mente precisávamos um do outro. Sem ela eu tinha uma rotina de aulas e emprego, uma família no interior, um apartamento vazio, pouco mais do que isso. E eu, de certa forma, era pra ela um salva-vidas no meio de pais conservadores e

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pessoas, na sua opinião, idiotas. Todos eram idiotas.
Linda não retornava. Saí do cinema e gritei por ela no banheiro feminino, sem obter resposta. Procurei-a nos bares e cafés ao redor, mas ela havia desaparecido.
Concluí que devia ter voltado para o meu apartamento, ela tinha uma cópia da chave e dificilmente teria ido pra casa da família. Retornei para o meu prédio sem saber ao certo como reagiria ao encontrá-la, ou que explicação ela me daria, caso houvesse alguma. O apartamento, porém, estava vazio.
Sentei numa mesa da calçada e pedi um copo de trigo velho e uma Coca-Cola. Os bares já estavam todos cheios, passava das nove horas da noite. Reconheci uma pessoa aproximando-se a partir da calçada oposta. Era o Beto, um amigo dos tempos de colégio, que eu encontrava ocasionalmente pela noite. Sentou-se na minha mesa.
— E aí, como é que tá? Eu sabia que ia encontrar alguém pra tomar uma ceva!
— Oi.
— Vou baixar uma ceva pra nós!
Apenas sacudi a cabeça, elevando meu copo de trigo velho no ar. Torci para que ele entendesse a mensagem sem que eu precisasse dizer mais nada.
— Ah, ok. Mas vou tomar uma sozinho, então.

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— E aí, o que tem feito? Cadê a Linda?
— Boa pergunta.
— Vocês ainda tão juntos?
— Sim.
— Tou com saudade dela.
— ...
— Como vai a faculdade? Publicidade, né?
— Jornalismo.
— Isso. Tá curtindo?
— Não. Um pouco.
Ele encheu o copo com cerveja e bebeu num gole só. Olhou para baixo e depois para os lados. Tirou uma caixa de lenços de papel do interior da mochila, puxou um e assoou o nariz. Olhou para baixo novamente, e depois pra mim:
— Tu tá a fim de ficar sozinho?
— Na verdade, sim. Não leva a mal.
— Tudo bem. A gente se fala uma outra hora, então. Vou indo.
Esvaziou a garrafa no copo e tomou tudo, apressado. Nos cumprimentamos e ele se afastou. Chamei o garçom e pedi mais um copo de trigo velho. Bebi sozinho até que o álcool se tornasse um assunto mais urgente do que a ausência de Linda.
Entrei no apartamento, fui imediatamente ao quarto e encontrei ela deitada de lado na cama. Tirara apenas os sapa-

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tos e dormia com a boca entreaberta. Me ajoelhei e observei mais de perto seu rosto, parcialmente encoberto pelos cabe¬los emaranhados. Tinha olheiras, e a maquiagem preta e azul dos olhos estava um pouco borrada, enchendo de tristeza a cara bonita.
Voltei para a sala e avistei sobre a poltrona uma garrafa de vodka quase vazia. Estava aberta, deitada de lado assim como Linda sobre a cama, e uma porção de bebida havia escapado pela gargalo e molhado a almofada.
Peguei um copo na cozinha, enchi com água da torneira e bebi, repetindo mais duas vezes. No caminho para o banheiro, estranhei a presença de um saco plástico sobre a mesa da sala. Tinha no lado de fora o logotipo de uma farmácia. De dentro do saco, tirando uma por uma, contei vinte e oito escovas de dente.

(Daniel Galera, Dentes guardados. Livros do Mal: Porto Alegre, 2004. 3ª. ed. revista)

Olhos do coração

Que coisa forte, bonita
Que vida, que pulsação
Quem ouve, sente, acredita
Nos olhos do coração
Rei negro chamado Charles
Reinando em tantas canções, yeah
Stevie maravilhando
O mundo com outra visão são...
Eles...
Som que vai longe
Eles...
Sempre com a gente
São eles...
Brilho na escuridão
Luz que não se apaga nunca
Iluminação
José que traz Porto Rico
No sangue, voz e violão, yeah
Feliciano lamento
Trazendo dentro um vulcão são...
Eles...

(Tunai e Sérgio Natureza)

domingo, 4 de julho de 2010

Cuba

Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais

malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandro

Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais

malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandro

Para Xangô, Iemanjá (4x)

Minha vida é o mar

O que da vida posso ter
como a vida deve ser
como o mundo deve ser
como a vida deve ser
com as balizas do nosso sistema
encaminhando seus filhos pra guerra

como a vida deve ser
O que da vida posso ter
como o mundo deve ser

nas as balizas do nosso sistema
encaminhando seus filhos pra guerra

(Solo)
no meio disso tudo eu não me envolvo não me sujo
até um tempo atras eu era um pobre vagabundo
andava pela rua nenhum trocado
ia a pé pra todo lado maltrapido e maltratado
maltrapido e maltratado falido e mau cuidado
quem vai abrir pra mim as portas da Babylonia

Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais

malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandrooo

Para Xangô, Iemanjá (4x)

Se aquilo tudo é o mar

Faça então desfaça
Quem tem fé em Deus se afasta
Não falei mania de Graça
Fala da zica só atrasa

Se Cuba não vai ao Papa
É o Papa que vai a Cuba
Quem acha que a vida é dura
Na vida não tem tal praça
Oi, não, se Cuba não vai, é o Papa que vem
Quem pensa que é, não sabe demais
Porque, malandro que é malandro é malandro demais

malandro que é malandro é malandro demais (2x)
malandro que é malandrooo

Para Xangô, Iemanjá (4x)



Feira da Ceilândia (Senzala)

A feira da ceilândia te oferece o que quiser comprar:peixe, sapato, retrato, colar pra te enfeitar,
Cinto da moda ( 4x )

Sinto vontade, grande necessidade de comprar. roupa xadrez, meia longa, bota preta pra arrasar. estilo colegial: brega, veste mal vamos parar.
Mulheres dêem à cor o seu destaque. esbanjem no batom e no esmalte. muita roupa já é coisa de perua. daqui a pouco tem gente andando nua.

A feira da ceilândia te...

Sinto vontade, grande necessidade de dançar. danço o axé, o pagode. o rock vai ter esperar. quarteto, quinteto estrangeiro é o som que vai rolar.
Guarde seu velho cd na estante. agora você vai curtir um funk. lambada som da hora na senzala. melhor dançar agora porque passa.

A feira da ceilândia te...

Sinto vontade, grande necessidade de observar. onda do norte, coisa de nobre. vamos copiar. desde filme titanic à sanduíche ...
Virgindade lá é coisa do passado. "e se voltar à moda o quê que eu faço?!". brasil, não é que há algo que te estrague. mas ”santo de casa não faz milagre”.

A feira da ceilândia te...

Mas o que você precisa mais na feira não se pode encontrar: razão, consciência, senso, inteligência, uma cabeça pra pensar.
Isso só no shopping lá do centro você vai achar
Se tiver dinheiro pra comprar. boa aparência pra entrar. não tenho dinheiro pra comprar.
Hoje eu vou voltar pra feira. pra feira de ceilândia hoje eu vou voltar pra feira. lá tem pastel e tem caldo de cana.

(Ellen Oléria)


Só pra constar

Até chego
Passo pela porta da cozinha
Um dia
Hoje entre nós, chão
Mas abra o portão e não
Não some de mim
Só pra constar, amor

Um zero, um nove e um
Pra te contar sem te dizer
Cheirinho de lar, pra embriagar, pra me prender
As novas marcas d´água estou guardando pra você
Espera
Eu vou, eu vou

(Ellen Oléria)

Testando

Alô alô som Teeeeste um, dois, três, testando

Eu, eu não domino a esgrimaa
Mas minha palavra,
a minha palavra, a minha palavra é afiada e contamina
Minha ginga, meu jeito, minha voz que vem do gueto
Minha raça, minha cara, tua cara a tapa, o meu cabelo crespo
Não ponho na chapa, aguenta a minha marra
Teu cartão não me paga
Minha ancestralidade no peito eu não tô te vendendo aaa

Quem bate em minha postura pura malandragem
Mas minha superação foi com muita dificuldade
Não é contanto por contar, não é por vaidade
Mas peito pra encarar a vida louca com coragem
Não é pra qualquer um, minha mãe é minha testemunha
eu preço, zelo, descontentamento
Muita acusação sem inspiração, sem passo e sem pão

é Mãe não se preocupa eu dou meu pulinhos, eu dou meu jeito
Eu sempre me virei e é claro eu precisei de ajuda
conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura
Tem gente boa no mundo isso eu já sei
Também vi o lado violento dos que não temem a lei
Tanto faz lei divina, tanto faz lei dos homi
Não importa por roupa chique ou dar seu sobrenome
A mulherada já sabe o cotidiano da rua
Anoiteceu sozinha cê não tá segura

Alô alô som Teeeeste um, dois, três, testando

Suor e choro a noite é fria
Pra esses lances ninguém nunca está preparado
Depois de um dia duro meu corpo foi travado
Assalto a mão armada
Levaram um violão, o microfone emprestado
eu chorei, eu chorei

A bandidagem não acompanhou a estereotipia
Três garotos tipo de uns 15 anos
Eu nunca vi na área esses garotos brancos
Duas meninas loiras com boné cor de rosa
Reescrevendo as linhas da conhecida históriaaa

Andando na rua de noite muita gente branca já fugiu de mim
A minha ameaça não carrega bala mas incomoda o meu vizinho
O imaginário dessa gente dita brasileira é torto
Gritei pela minha pele, qual será o meu fim?
Eu não compactuo com esse jogo sujo
Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo
A minha voz transcende a minha envergadura
Conhece a carne fraca? eu sou do tipo carne dura

Alô alô som Teeeeste um, dois, três, testando

Tá ficando bom mas vai ficar melhor....

Basalto que emana dos meus poros
Minha consciência é pedra nesse instante

(Ellen Oléria)

Beijinhos no rosto

A sua bexiga terá que ser removida inteiramente, disse Roberto. E nesses casos prepara-se um lugar para a urina ser armazenada, antes de ser excretada. Uma parte do seu intestino será convertida num pequeno saco, ligado aos ureteres. A urina desse receptáculo será direcionada para uma bolsa colocada em uma abertura na sua parede abdominal. Estou descrevendo esse procedimento em linguagem leiga para que você possa entender. Essa bolsa será oculta pelas suas roupas e terá que ser esvaziada periodicamente. Fui claro?

Foi, respondi acendendo um cigarro.

Gostaria de marcar a cirurgia para logo depois desses exames que estou pedindo. Já lhe falei da relação entre o câncer da bexiga e o fumo?

Não me lembro.

Três em cada cinco casos de câncer na bexiga são ligados ao fumo. Esse vínculo entre o fumo e o câncer da bexiga é especialmente forte entre os homens.

Prometo que vou deixar de fumar.

Este ano, no mundo, ocorrerão cerca de trezentos mil novos casos de câncer de bexiga.

É mesmo?

É o quarto tipo de câncer mais comum e a sétima causa de morte por câncer.

Tive vontade de mandar o Roberto parar de me chatear, mas ele, além de meu médico, era meu amigo.

O câncer de bexiga, ele continuou, pode ocorrer em qualquer idade, mas usualmente atinge pessoas com mais de cinqüenta anos. Você faz cinqüenta anos no mês que vem. É um mês mais velho do que eu.

Estou atrasado para um compromisso, tenho que ir, Roberto.

Não se esqueça de fazer os exames.

Saí correndo. Eu não tinha encontro algum. Queria fumar outro cigarro em paz. E também precisava encontrar alguém que me arranjasse um revólver. Lembrei-me do meu irmão.

Telefonei para ele.

Você ainda tem aquela arma? Tenho. Por quê?

Quer vender?

Não.

Você não tem medo de que um dos teus filhos ache o revólver e dê um tiro na cabeça do outro? Uma coisa assim aconteceu outro dia. Deu no jornal.

Meu revólver está trancado numa gaveta.

O desse infeliz, segundo dizia o jornal, também.

Eu não li nada sobre isso.

Você sempre diz que só lê a manchete do jornal. Isso não dá manchete, acontece todo dia.

E como é que foi?

O menino estava brincando de mocinho e bandido com o irmão e a desgraça aconteceu. Qualquer dia vou ler no jornal que um sobrinho meu matou o outro numa brincadeira.

Deixa de ser agourento.

Vou passar aí hoje à noite.

Chegando na casa do meu irmão ele me disse, olha aqui esta gaveta, você acha que dois pirralhos podem arrombar essa fechadura?

Podem. Como? Quer ver eu arrombar essa merda?

Você é um adulto.

Onde é que está a Helena?

Está no quarto.

Chama ela aqui.

Contei para a mulher dele a tal notícia do jornal, que eu inventara.

Vivo pedindo ao Carlos para se livrar dessa porcaria, mas ele não me ouve, disse Helena.

Eu vim aqui para comprar o revólver, mas esse idiota não quer vender.

O que você vai fazer com o revólver?, perguntou Carlos.

Nada. Possuí-lo, apenas. Eu sempre quis ter um revólver.

Helena e o meu irmão discutiram algum tempo. Ela venceu o debate ao dizer que um dos meninos podia pegar o chaveiro quando meu irmão estivesse dormindo, ou quando ele esquecesse o chaveiro num lugar onde os moleques pudessem achar, ou em outra ocasião qualquer. Afinal, Carlos abriu a gaveta e tirou o revólver.

E você, para piorar as coisas, mantém esse troço carregado, eu disse, depois de examinar a arma.

Maluco irresponsável, disse Helena, furiosa, você sempre me disse que o revólver não tinha balas. Olha, deixa o seu irmão levar essa porcaria com ele, agora. Do contrário eu saio de casa e levo as crianças.

Peguei o revólver e fui para o meu apartamento. Telefonei para a minha namorada. Senti vontade de ir ao banheiro mas sabia que ia ver sinais de sangue na urina, o que sempre me dava calafrios. Isso podia atrapalhar o meu encontro. Urinei de olhos fechados e também de olhos fechados acionei a válvula de descarga várias vezes.

Enquanto esperava minha namorada, fiquei pensando no futuro, fumando e tomando uísque. Eu não ia ficar a vida inteira enchendo com xixi uma bolsa colada no corpo, que depois tinha que ser esvaziada, sei lá de que maneira. Como eu poderia ir à praia? Como poderia fazer amor com uma mulher? Imaginei o horror que ela sentiria ao ver aquela coisa.

Minha namorada chegou e fomos para a cama.

Você está preocupado com alguma coisa, ela disse, depois de algum tempo.

Não estou me sentindo bem.

Não se preocupe, querido, podemos ficar apenas conversando, adoro conversar com você.

Essa é uma das piores frases que um homem pode ouvir quando está nu com uma mulher nua na cama.

Levantamos e nos vestimos sem olhar um para o outro. Fomos para a sala. Conversamos um pouco. Minha namorada olhou para o relógio, disse tenho que ir, querido, me deu uns beijinhos no rosto, foi embora e eu dei um tiro no peito.

Mas esta história não termina aqui..Eu devia ter atirado na cabeça, mas foi no peito e não morri. Durante a convalescença, Roberto me visitou várias vezes para dizer que tínhamos pouco tempo, mas ainda podíamos fazer a cirurgia da bexiga, com êxito.

Isso foi feito. Agora eu esvazio com facilidade a bolsa de urina. Ela fica bem escondida sob a roupa, ninguém percebe que está ali, sobre o meu abdome. O câncer parece que foi extirpado. Não tenho mais namorada e estou viciado em palavras cruzadas. Deixei de ir à praia. Fui uma vez, para jogar o revólver no mar.

(Rubem Fonseca. Secreções, excreções e desatinos, Companhia das Letras - São Paulo, 2001, p. 59)

Preciso dizer que te amo

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

(Bebel Gilberto / Cazuza / Dé)



Ainda é cedo

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

(Ico-Ouro Preto / Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá)




quinta-feira, 24 de junho de 2010

Poker Face - Glee Version [With Lyrics]

Tim Maia - Telefone



- Alô
- Alô
- Quem fala ?
- Sou eu, amor. Você não se lembra mais da minha voz ?
- Mas essa hora da manhã ?
- Ah, eu queria tanto te ver
- Às quatro horas da manhã ?
- Ah, eu não consigo dormir, eu preciso te ver

Eu bem que te avisei
Pra não levar a sério
O nosso caso de amor.
Eu sempre fui sincero e você sabe muito bem.

Eu bem que te avisei pra não levar a sério
O nosso caso de amor
Eu sempre fui sincero e você sabe muito bem.
Eu não te prometi nada.
Não venha me cobrar por esse amor,
Pois esse sentimento eu não tenho pra te dar

Sinto muito em te dizer, vê se tenta esquecer.
Os momentos que passamos que juntinhos nos amamos
Leve um beijo e adeus.

(Nelson Kaê / Beto Correa)

Tim Maia - Sofre



É engraçado
A gente ama, troca juras de amor,
promete nunca se separar.
A gente deposita uma confiança
tão grande na pessoa amada,
que jamais você poderia imaginar
que a pessoa que você quer tanto
esteja lhe traindo de uma maneira
tão fria e suja.
A dor que você sente é tanta,
que às vezes você deseja até morrer.
E desta dor nasce um ódio, um rancor,
uma espécie de vingança,
que eu agora vou cantar.

Não vou mais chorar,
mas se eu chorar
vai ser baixinho pra ninguém me ver
O quanto eu sofro, pois amei você.

E vou seguir meu caminho triste
Como antes de te conhecer
Porem marcado, humilhado, magoado.
Pode ver.

Você foi mulher
Se isso é ser mulher
Está enganada, pois não é não.
Isto foi pura podridão

Se valeu do sentimento puro
e belo que eu tinha por você
para fazer as suas crueldades e maldades
Sem perdão.

Agora Sofre
Sofre
Todo mal que cê me fez
Você bem cedo irá pagar!

Disse a todo mundo eu que era o mal
E, no entanto foi você quem riu.
E quem me fez penar!

Agora Sofre
Sofre
Todo mal que cê me fez
Você bem cedo ira pagar!

(Tim Maia)


terça-feira, 22 de junho de 2010

Zizi Possi - Dedicado a Você




Vem,
Se eu tiver você no meu prazer
Se pudesse ficar com você
Todo o momento, em qualquer lugar
Ah!
Se no desejo você fosse o amor
Durante o frio fosse o calor
Na minha lua, você fosse o mar
Vem, meu coração se enfeitou de céu
Se embebedou na luz do teu olhar
Queria tanto ter você aqui!
Ah! Se teu amor fosse igual ao meu
Minha paixão ia brilhar, e eu
Completamente ia ser feliz!

(Dominguinhos - Nando Cordel)

Zizi Possi - Contrato de Separação



Olha, essa saudade
Que maltrata o meu peito
É ilusão
E por ser ilusão é mais difícil de apagar

Ela vai me consumindo lentamente
Ela brinca com meu peito
E leva sempre a melhor

Eu quis fazer com ela um contrato de separação
Negou-se, então, a aceitar
Sorrindo da minha ilusão

Só tem um jeito agora
É tentar de vez me libertar
Brigar com a lembrança
Pra não mais lembrar

(Dominguinhos - Anastácia)

domingo, 20 de junho de 2010

A descoberta do mundo

O que eu quero contar é tão delicado quanto a própria vida. Eu quereria poder usar a delicadeza que também tenho em mim, ao lado da grossura de camponesa que é o que me salva.
Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo aliás atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. Ou será que eu adivinhava mas turvava minha possibilidade de lucidez para poder, sem me escandalizar comigo mesma, continuar em inocência a me enfeitar para os meninos? Enfeitar-me aos onze anos de idade consistia em lavar o rosto tantas vezes até que a pele esticada brilhasse. Eu me sentia pronta, então. Seria minha ignorância um modo de me manter ingênua para poder continuar, sem culpa, a pensar nos meninos? Acredito que sim. Porque eu sempre soube de coisas que nem eu mesma sei que sei.
As minhas colegas de ginásio sabiam de tudo e inclusive, contavam anedotas a respeito. Eu não entendia mas fingia compreender para que elas não me desprezassem e à minha ignorância.
Enquanto isso, sem saber da realidade, continuava por puro instinto a flertar com os meninos que me agradavam, a pensar neles. Meu instinto precedera a minha inteligência.
Até que passados os treze anos, como se só então eu me sentisse madura para receber alguma realidade que me chocasse, contei a uma amiga íntima o meu segredo: que eu era ignorante e fingira de sabida. Ela mal acreditou, tão bem eu havia antes fingido. Mas terminou sentindo minha sinceridade e ela própria encarregou-se ali mesmo de me esclarecer o mistério da vida. Só que também ela era uma menina e não soube falar de um modo que não ferisse a minha sensibilidade de então. Fiquei paralisada olhando para ela, misturando perplexidade, terror, indignação, inocência mortalmente ferida. Mentalmente eu gaguejava: mas por quê? mas para quê? O choque foi tão grande – e por uns meses traumatizantes – que ali mesmo na esquina jurei alto que nunca iria me casar.
Embora meses depois esquecesse o juramento e continuasse com meus pequenos namoros.
Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. Esse adulto saberia como lidar com uma alma infantil sem martirizá-la com a surpresa, sem obrigá-la a ter toda sozinha que se refazer para de novo aceitar a vida e os seus mistérios.
Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo até hoje surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.

(Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Rocco, 1999. p. 113-115)

domingo, 13 de junho de 2010

Jorge Ben Jor e Mano Brown | Umbabarauma




Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol

Joga bola, joga bola
Corocondô
Joga bola, joga bola
Jogador

Pula, pula, cai, levanta
Sobe, dece, corre, chuta
Abra espaço
Vibra e agradece

Olha que a cidade
Toda ficou vazia
Nessa tarde bonita
Só pra te ver jogar

Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol

Joga bola jogador
joga bola corocondô
Joga bola jogador
joga bola corocondô

Rere, rere, rere jogador
Rere, rere, rere corocondô
Rere, rere, rere jogador
Rere, rere, rere corocondô

Tererê, tererê, tererê, tererê
Tererê homem gol
Tererê, tererê, tererê, tererê
Tererê homem gol

Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol

Essa é a história de Umbabarauma
Um ponta de lance africando
Um ponte de lance decidido
Umbabarauma

Ponta de lança africano
(Jorge Ben Jor)

Homenagem a Santo Antônio

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Chico Buarque | Futuros Amantes

Sem você

Sem você, sem amor
É tudo sofrimento
Pois você é o amor
Que eu sempre procurei em vão

Você é o que resiste
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo é triste sem você

Meu amor, meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais

Tanta mágoa assim, no mundo
Sem você

(Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Do fundo do meu coração

Eu, cada vez que vi você chegar,
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido, eu disse nunca mais
Mas, novamente estúpido provei
Desse doce amargo quando eu sei
Cada volta sua o que me faz

Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Vi o meu amor tratado assim
Mas, basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Agora eu tenho que saber
O que é viver sem você

Eu, toda vez que vi você voltar,
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Mais uma vez aqui
Olhando as cicatrizes desse amor
Eu vou ficar aqui
E sei que vou chorar a mesma dor

Se você me perguntar se ainda é seu
Todo o meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que 'sim'
Mas, já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim

(Roberto Carlos & Erasmo Carlos)




quarta-feira, 9 de junho de 2010

Liza Minnelli | But the world goes around

Sometimes you're happy, sometimes you're sad
But the world goes 'round
Sometimes you lose every nickel you had
But the world goes 'round

Sometimes your dreams get broken in pieces
But that doesn't alter a thing
Take it from me, there's still gonna be
A summer, a winter, a fall and a spring

And sometimes a friend starts treating you bad
But the world goes 'round
And sometimes your heart breaks with a deafening sound

Somebody loses and somebody wins
And one day it's kicks, then it's kicks in the shins
But the planet spins, and the world goes 'round-
But the world goes 'round
But the world goes 'round

Sometimes your dreams get broken in pieces
But that doesn't matter at all
Take it from me, there's still gonna be
A summer, a winter, a spring and a fall

And sometimes a friend starts treating you bad
But the world goes 'round
And sometimes your heart breaks with a deafening sound

Somebody loses and somebody wins
Then one day it's kicks, then it's kicks in the shins
But the planet spins, and the world goes 'round
And 'round and 'round and 'round and 'round
The world goes 'round and 'round and 'round
And 'round!

(Fred Ebb e John Kander)








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Amém

Eartha Kitt | C'est Si Bon (Live Kaskad 1962)

C'est si bon,
De partir n'importe où,
Bras dessus bras dessous,
En chantant des chansons,

C'est si bon,
De se dire des mots doux,
De petit rien du tout,
Mais qui en disent long.

En voyant notre mine ravie
Les passants dans la rue, nous envient

C'est si bon,
De guetter dans ses yeux
Un espoir merveilleux
Qui donne le frisson
C'est si bon
Cette petite sensation
ça vaut mieux qu'un million
C'est tellement tellement bon

Hum, c'est bon
Voilà c'est bon
Les passants dans la rue
Bras dessus bras dessous
En chantant des chansons
Quel espoir merveilleux

Hum, c'est bon
Je cherche un millionnaire
Avec des grands "Cadillac car"
"Mink coats"
Des bijoux
Jusqu'au cou, tu sais

Hum, c'est bon
Cette petite sensation
Ou peut-être quelqu'un avec un petit yacht, non ?
Ah C'est bon
C'est bon, C'est bon
Vous savez bien que j'attends quelqu'un
qui pourrait m'apporter beaucoup de luxe
Ce soir, demain, la semaine prochain(e)
N'importe quand
Hum, c'est bon
C'est bon
Il sera très crazy, non ?
Voilà, c'est tellement bon !

(Henri Betti - André Hornez)



Eartha Kitt | All by myself / Life made me beautiful at forty

When I was young
I never needed anyone
And making love was just for fun
Those days are gone
Livin'alone
I think of all the friends I've known
When I dial the telephone
Nobody's home

All by myself
Don't wanna be
All by myself
Anymore

Hard to be sure
Sometimes I feel so insecure
And loves so distant and obscure
Remains the cure

All by myself
Don't wanna be
All by myself
Anymore
All by myself
Don't wanna live
All by myself
Anymore

When I was young
I never needed anyone
And making love was just for fun
Those days are gone

All by myself
Don't wanna be
All by myself
Anymore
All by myself
Don't wanna live
Oh
Don't wanna live
By myself, by myself
Anymore
By myself
Anymore
Oh
All by myself
Don't wanna live
I never, never, never
Needed anyone

(Eric Carmen)



I've been through clouds and stormy skies
On different worlds, all filled with lives
I've travelled through the steams of lovers
And wiped my tears upon their covers
I've lived a life of rogue and queen
And died my hair to fit the scene
I've had my ups, I've had my downs
And sipped champagne with worldly crowns
I've been as honest as I could
And ashamed, the shame that knows I should
I've been loved and I've been lied to
And found a few shoulders I could cry to
And all those years I thought life naughty, ah-hah
Should make me beautiful at forty

For life's not been so bad to take
For now I've cut life's golden cake
Into a million tiny squares
And with each piece recall the years
The taste of life has not been so bad
Between the tears and joys I've had
But with some good and a little singing
She always allowed me to get a grin
And all those years I've spent on my youth
Thinking knowledge brought the truth
I know life has her games to play
And puzzles it, crackling play
So, graves are dug and wars are lost
But life goes on at any cost

I do think life has made me wiser
So there is no reason to disguise her
Even tried to rearrange her
She has been fair, I would not change her, hah-hum
She presents me life so simply
In a cup that's almost empty
With a little wine to tease me
But not enough to really please me
And if I drink, and let her take me
She is wise enough to wake me
But only after dreams and visions
Allowing me to see these decisions, ah-hah
All those years I thought life naughty
She made me beautiful at forty

(Eartha Kitt / Joachim Kühn)








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SIMPLY... BEAUTIFUL.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pato Fu - Live And Let Die (Paul & Linda McCartney)

Poema dos olhos da amada

Ô bien-aimée, quels yeux tes yeux
Embarcadères la nuit, bruissant de mille adieux
Des digues silencieuses
Qui guettent les lumières
Loin… si loin dans le noir
Ô bien-aimée, quels yeux… tes yeux
Tous ces mystères dans tes yeux
Tous ces navires, tous ces voiliers
Tous ces naufrages dans tes yeux
Ô ma bien-aimée aux yeux païens
Un jour, si Dieu voulait
Un jour… dans tes yeux
Je verrais de la poésie, le regard implorant
Ô ma bien-aimée, quels yeux… tes yeux

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

(Paulo Soledade / Vinicius de Moraes)

Versão/adaptação: Jeanne Moreau e Dominique Dreyfus



sexta-feira, 4 de junho de 2010

Thiago Pethit e Tiê - Essa Canção Francesa



Essa Canção Francesa

Ma belle amie
Je sais que tu viens
Que tu viens pour dire
Malgré ton désir
Que tu es ma lover
Oui, je suis ta lover
Car quand il est neuf heures
Moi je dois partir
Je fais semblent de dormir
Pour pouvoir retrouver
Tes mots secrets
Tes mots d'amour
Sous l'oreiller

C'est ma chanson française pour toi
Les rimes hesitent mais pardonne-moi
Je n'ai pas ta classe, ni ta cadence
Pour dire des mots d'amour
Comme en France

Je suis ta lover
Oui, tu es ma lover
Car quand il est neuf heures
Toi tu dois partir
Tu fais semblent de dormir
Pour pouvoir retrouver
Mes mots secrets
Mes mots d'amour
Sous l'oreiller

C'est ma chanson française pour toi
Les rimes hesitent mais pardonne-moi
Je n'ai pas ta classe, ni ta cadence
Pour dire des mots d'amour
Comme en France

Mon amour
Mon amour
Je veux que tu viennes toujours
Mon amour
Mon amour
Ton poème sous l'abatjour
Mon amour
Mon amour
Mon coeur qui bat comme un tambour
Mon amour
Mon amour
Si doux comme un petit-four
Mon amour
Mon amour
On se trouve dans en carrefou

(Música/Song: Thiago Pethit - Letra/Lyrics: Rafael Barion)

Billie Holiday - Speak Low




Speak low
When you speak, love
Our summer day withers away
Too soon, too soon
Speak low
When you speak, love
Our moment is swift,
Like ships adrift,
We're swept apart, too soon
Speak low, darling, speak low
Love is a spark, lost in the dark
Too soon, too soon
I feel wherever I go
That tomorrow is near,
Tomorrow is here
And always too soon
Time is so old and love so brief
Love is pure gold and time a thief
We're late, darling, we're late
The curtain descends,
Ev'rything ends
Too soon, too soon
I wait, darling, I wait
Will you speak low to me,
Speak love to me
And soon

(Kurt Weill / Ogden Nash)


Thiago Pethit - "Low Lights" - Trama/Radiola

Diane Reeves - Do Nothin' Till You Hear From Me




(Edward "Duke" Ellington, Bob Russell)


Do nothing till you hear from me,
Pay no attention to what's said.
Why people tear the seams of anyone's dreams
Is over my head.


Do nothing till you hear from me,
At least consider our romance.
If you should take the words of others you've heard,
I haven't a chance.


True, I've been seen with someone new,
But does that mean that I've been untrue?
When we're apart,
The words in my heart
Reveal how I feel about you.


Some kiss may cloud my memories,
And other arms may hold a thrill,
But please, do nothing till you hear it from me--
And you never will.


~interlude~


Some kiss may cloud my memories,
And other arms may hold a thrill,
But please, do nothing till you hear it from me--
And you never will.

Dianne Reeves - The Man I Love

Lizz Wright, Dianne Reeves & Simone - Four Women (NSJ '09)

sábado, 29 de maio de 2010

O Rio (João Cabral de Melo Neto)

Da lagoa da Estaca a Apolinário

Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo
e exigente chamar.
Eu já nasci descendo
a serra que se diz do Jacarará,
entre caraïbeiras
de que só sei por ouvir contar
(pois, também como gente,
não consigo me lembrar
desas primeiras léguas
de meu caminhar).

Deste tudo que me lembro,
lembro-me bem de que baixava
entre terras de sêde
que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
aquela grande sêde de palha,
grande sêde sem fundo
que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
caminho de pedras eu buscava,
que não leito de areia
com suas bôcas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.

Notícia do Alto Sertão

Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que sêca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.

A estrada da Ribeira

Como aceitara ir
no meu destino de mar,
preferi essa estrada,
para lá chegar,
que dizem da ribeira
e à costa vai dar,
que dêste mar de cinza
vai a um mar de mar;
preferi essa estrada
de muito dobrar,
estrada bem segura
que não tem errar
pois é a que tôda a gente
costuma tomar
(na gente que regressa
sente-se cheiro de mar).

De Apolinário a Poço Fundo

Para o mar vou descendo
por essa estrada da ribeira.
A terra vou deixando
de minha infância primeira.
Vou deixando uma terra
reduzida à sua areia,
terra onde as coisas vivem
a natureza da pedra.
À mão direita os ermos
do Brejo da Madre de Deus,
Taquaritinga à esquerda,
onde o êrmo é sempre o mesmo.
Brejo ou Taquaritinga,
mão direita ou mão esquerda,
vou entre coisas poucas
e sêcas além de sua pedra.

Deixando vou as terras
de minha primeira infância.
Deixando para trás
os nomes que vão mudando.
Terras que eu abandono
porque é de rio estar passando.
Vou com passo de rio,
que é de barco navegando.
Deixando para trás
as fazendas que vão ficando.
Vendo-as, enquanto vou,
parece que estão desfilando.
Vou andando lado a lado
de gente que vai retirando;
vou levando comigo
os rios que vou encontrando.

Os rios

Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.

De Poço Fundo a Couro d'Anta

A gente não é muita
que vive por esta ribeira.
Vê-se alguma caieira
tocando fogo ainda mais na terra;
vê-se alguma fazenda
com suas casas desertas:
vêm para a beira da água
como bichos com sêde.
As vilas não são muitas
e quase tôdas estão decadentes.
Constam de poucas casas
e de uma pequena igreja,
como, no itinerário,
já as descrevia Frei Caneca.
Nenhuma tem escola;
muito poucas possuem feira.

As vilas vão passando
com seus santos padroeiros.
Primeiro é Poço Fundo,
onde Santo Antônio tem capela.
Depois é Santa Cruz
onde o Senhor Bom Jesus se reza.
Toritama, antes Tôrres,
fêz para a Conceição sua igreja.
A vila de Capado
chama-se pela sua nova capela.
Em Topada, a igreja
com um cemitério se completa.
No lugar Couro d'Anta,
a Conceição também se celebra.
Sempre um santo preside
à decadência de cada uma delas.

A estrada da Paraíba

Depois de Santa Cruz,
que agora é Capibaribe,
encontro uma outra estrada
que desce da Paraíba.
Saltando o Cariri
e a serra de Taquaritinga,
na estrada da ribeira
ela deságua como num rio.
Juntos, na da ribeira,
continuamos, a estrada e o rio,
agora com mais gente:
a que por aquela estrada descia.
Lado a lado com gente
viajamos em companhia.
Todos rumo do mar
e do Recife êsse navio.

Na estrada da ribeira
até o mar ancho vou.
Lado a lado com gente,
no meu andar sem rumor.
Não é estrada curta,
mas é a estrada melhor,
porque na companhia
de gente é que sempre vou.
Sou viajante calado,
para ouvir histórias bom,
a quem podeis falar
sem que eu tente me interpor;
junto de quem podeis
pensar alto, falar só.
Sempre em qualquer viagem
o rio é o companheiro melhor.

Do riacho as Éguas ao ribeiro do Mel

Caruaru e Vertentes
na outra manhã abandonei.
Agora é Surubim,
que fica do lado esquerdo.
A seguir João Alfredo,
que também passa longe e não vejo.
Enquanto na direita
tudo são terras de Limoeiro.
Meu caminho divide,
de nome, as terras que desço.
Entretanto a paisagem,
com tantos nomes, é quase a mesma.
A mesma dor calada,
o mesmo soluço sêco,
mesma morte de coisa
que não apodrece mas seca.

Coronéis padroeiros
vão desfilando com cada vila.
Passam Cheos, Malhadinha,
muito pobres e sem vida.
Depois é Salgadinho
com pobre águas curativas.
Depois é São Vicente,
muito morta e muito antiga.
Depois, Pedra Tapada,
com poucos votos e pouca vida.
Depois é Pirauíra,
é um só arruado seguido,
partido em muitos nomes
mas todo êle pobre e sem vida
(que só há esta resposta
à ladainha dos nomes dessas vilas).

domingo, 16 de maio de 2010

Fiona Apple :: Across The Universe



Words are flowing out like endless rain into a paper cup,
They slither wildly as they slip away across the universe.
Pools of sorrow, waves of joy are drifting through my opened mind,
Possessing and caressing me.

Jai guru deva. Om.

Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Images of broken light which dance before me like a million eyes,
They call me on and on across the universe.
Thoughts meander like a restless wind inside a letter box,
They stumble blindly as they make their way across the universe

Jai guru deva. Om.

Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Sounds of laughter, shades of love are ringing through my opened mind
Inciting and inviting me.
Limitless undying love, which shines around me like a million suns,
And calls me on and on across the universe

Jai guru deva. Om.

Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world.

Jai guru deva.
Jai guru deva.
Jai guru deva.
Jai guru deva.
Jai guru deva.
Jai guru deva.

Rufus, Moby, & Sean Lennon - Across The Universe

GAL COSTA - BRASIL (1994)

Gal Costa canta "Lua, lua, lua, lua"

Paul Weller & Amy Winehouse I Heard It Through The Grapevine

sábado, 8 de maio de 2010

MÃE

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão

Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração

Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor

Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou

Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estás
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs

Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti


(Caetano Veloso)

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