quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Pessoas invisíveis

Ouvi há algum tempo, nem lembro de quem nem onde, a expressão “pessoas invisíveis” aplicada àquelas pessoas que tão comumente vemos pedindo e vendendo coisas pelas ruas. Sim, “invisíveis”. Desvia-se delas como se ali não estivessem, como um mero obstáculo, um objeto, uma coisa. É certo que se formos parar e dar atenção ou dinheiro para todas que encontramos no caminho a coisa fica inviável. No entanto, além do dinheiro, pra fins diversos, seja realmente para comer, para comprar remédio, ou para um fim menos nobre, talvez essas pessoas queiram simplesmente atenção. Alguém que as veja e ouça, que as conforte.

Hoje, um guri no ponto de ônibus, com vinte anos ou menos, pediu moedas, segundo ele para comer. Creio que realmente fosse. Ele era bonito, loiro, dentes perfeitos, mal vestido, meio sujo, com roupas que certamente já tinham sido de outra pessoa. Como não é incomum notar nas pessoas que pedem, ele tinha um olhar triste e subserviente, o que muitas vezes não passa de mera encenação; entretanto, senti que não era e dei a moeda. Ele começou a falar algo, meio a chorar, eu continuei no meu mundo, na música que eu ouvia, mal lhe prestei atenção. Ele agradeceu e se foi. Talvez ele quisesse ser ouvido, visto. Talvez não ser invisível fosse mais importante do que receber um real. Enfim, pensei que poderia ter prestado atenção no que ele queria dizer, coisa que ninguém no ponto de ônibus fez, tampouco deu dinheiro, e nisso penso também que melhor do ter dado dinheiro seria ter comprado um lanche pra ele.

Mas novamente isso se tornaria inviável, haja vista o imenso número de pessoas na mesma situação. Às vezes em certos lugares é impossível andar cem metros sem ser abordado. Essas situações, sempre constrangedoras, detonam uma carga reflexiva imensa: esmola não resolve, quem pede pode estar agindo de má fé. Esmola não resolve a situação da pessoa, mas é um paliativo importante para quem tem fome... Qual a solução? Uma delas seria tornar essas pessoas visíveis. Visíveis cada uma e todas. Contudo, como fazer isso com tranqüilidade quando se teme ser assaltado ou enganado? Intuição não basta. E instituição?

(a.l.k.)

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