segunda-feira, 29 de março de 2010

Gal, sempre Gal



Originais dos shows da fase áurea da cantora nos anos 70, "Índia", "Cantar" e "Gal Canta Caymmi" são encontrados nos arquivos de gravadora e vão virar CD em 2011
















No meio da década de 1970, Gal Costa estava em processo de transição. A estética experimental e psicodélica que pontuou seus primeiros álbuns solo já se esgotava, abrindo caminho para que a "grande cantora", em termos técnicos e formais, tomasse a cena.

São desse período os hoje clássicos álbuns "Índia" (1973), "Cantar" (1974) e "Gal Canta Caymmi" (1976), que renderam então encenações igualmente antológicas. Pois os áudios originais desses shows acabam de ser descobertos nos arquivos da Universal, estão em fase de tratamento e devem ser editados em CD no próximo ano.
Quem encontrou o material foi o pesquisador Rodrigo Faour, que buscava faixas raras da cantora para compor uma coletânea. "Acho que ainda tem mais coisa por lá. Estamos investigando a possibilidade de um quarto show no pacote."

Musicalmente, o material é impecável. "Índia", o show, tinha direção musical de Gilberto Gil e uma banda que incluía Dominguinhos, Toninho Horta, Chico Batera e Robertinho Silva. "Cantar" unia Gal e João Donato em uma série de duelos memoráveis que a cantora nunca registou em disco.

A versão ao vivo de "Gal Canta Caymmi" é especialmente impressionante. Foi registrada, segundo Faour, na estreia do show, no Palácio das Convenções do Anhembi (SP). Gal divide cena com Dorival Caymmi (1914-2008) -o que torna a descoberta ainda mais valiosa.
Gal ainda não sabia da existência das faixas quando recebeu a Folha no apartamento onde mora, em Salvador.

Lembrou-se de que Caetano Veloso queria dirigir "Índia", o show e o disco, em 73. Mas não conseguiu sair da Bahia. "Acho que a preguiça pegou ele", disse. "Mas mandou ideias numa fita cassete. A inclusão da canção "Índia" foi sugestão dele."
Contou também que "Drume Negrinha" foi feita por Caetano especialmente para Gal apresentar no show "Cantar".

"Era homenagem a Preta [Gil], minha afilhada que tinha acabado de nascer."

É essa mesma música que Gal, 64, canta hoje para ninar o filho Gabriel, 5, adotado em 2007. "Adoro cantar para ele dormir", diz. "Meu canto fica tão puro que volto para o começo, revisito meu passado, a infância, revejo minha mãe."

"Não sei como é parir um filho, mas entendi que isso não importa", diz. "Ele me rejuvenesce a cada dia e toda essa transformação certamente vai aparecer na minha música."






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GAL CANTA CAYMMI

GAL SOLO:

1) FESTA DE RUA;
2) NEM EU;
3) PESCARIA (CANOEIRO);
4) O VENTO;
5) RAINHA DO MAR;
6) SÃO SALVADOR;
7) PEGUEI UM ITA NO NORTE;
8) DOIS DE FEVEREIRO.

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CAYMMI SOLO:

1) MODINHA PARA GABRIELA;
2) DORA;
3) MARINA;
4) SAUDADE DA BAHIA;
5) JOÃO VALENTÃO;
6) EU FIZ UMA VIAGEM;
7) SARGAÇO MAR.

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GAL & CAYMMI:

1) VOCÊ JÁ FOI À BAHIA?
2) VATAPÁ;
3) ORAÇÃO À MÃE MENININHA;
4) SÓ LOUCO.

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CANTAR AO VIVO
01) A RÃ (João Donato/Caetano Veloso);
02) FLOR DE MARACUJÁ ( João Donato/Lysias Enio);
03) LUA LUA LUA LUA (Caetano Veloso);
04) BARATO TOTAL (Gilberto Gil);
05) ATÉ QUEM SABE (João Donato/Lysias Enio);
06) CHULULU (Mariah Costa);
07) FIM DE SONHO (José Carlos Pádua);
08) LUGAR COMUM (João Donato/Gilberto Gil);
09) NATURALMENTE (João Donato/Caetano Veloso) - SOLO DE JOÃO DONATO;
10) CANÇÃO QUE MORRE NO AR (Carlos Lyra/Ronaldo Bôscoli);
11) JÓIA (Caetano Veloso);
12) FLOR DO CERRADO (Caetano Veloso);
13) ME DEIXE MUDO (Walter Franco);
14) NÃO EXISTE PECADO AO SUL DO EQUADOR (Chico Buarque/Ruy Guerra);
15) LÁGRIMAS NEGRAS (Jorge Mautner/Nelson Jacobina);
16) MENINA MULHER DA PELE PRETA (Jorge Ben);
17) NA BAIXA DO SAPATEIRO (Ary Barroso);
18) DRUME NEGRINHA (Caetano Veloso/Eliseo Grenet);
19) TECO TECO (Pereira da Costa/Milton Villela);
20) MEU NOME É GAL (Roberto Carlos/Erasmo Carlos)

ÍNDIA AO VIVO
01) DESAFIO (Luiz Américo);
02) DIVINO MARAVILHOSO (Caetano Veloso/Gilberto Gil);
03) PRESENTE COTIDIANO (Luiz Melodia);
04) PASSARINHO (Tuzé de Abreu);
05) MARACATU ATÔMICO (Jorge Mautner/Nelson Jacobina);
06) INDIA (J. A. Flores/M. O. Guerreiro - Versão: José Fortuna);
07) MAMÃE CORAGEM (Caetano Veloso/Torquato Neto);
08) NEGA MANHOSA (Herivelto Martins);
09) SAMBA RUBRO-NEGRO (Wilson Baptista/Jorge de Castro);
10) DESAFINADO (Tom Jobim/Newton Mendonça);
11) DA MAIOR IMPORTÂNCIA (Caetano Veloso);
12) AVE MARIA NO MORRO (Herivelto Martins);
13) MILHO VERDE (folclore português/Gilberto Gil);
14) TREM DAS ONZE (Adoniran Barbosa);
15) DE AMOR EU MORREREI (Dominguinhos/Anastácia).

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Gal Costa quer revisitar repertório e prepara show "para matar a saudade"



















Desde o final dos anos 1990, o fã-clube de Gal Costa se dividiu.

Há os que a amam de maneira incondicional: para esse time, a pureza da voz está acima de qualquer questionamento, não importa o que ela grave ou como se comporte no palco.

E há os que se ressentem pelas mudanças que o tempo trouxe à cantora. Esses reclamam do fim daquele ímpeto explosivo que a moveu em outros tempos, sobretudo nos anos 1970. E esperam que ela siga descobrindo canções inéditas e revelando compositores, como fazia no passado.

"As pessoas costumam me cobrar atitude, postura, irreverência", diz. "Essas coisas aconteceram quando tinham que acontecer, especialmente no tropicalismo e na década de 70. Era um contexto mundial e eu estava inserida nele."

Gal expõe a questão sem se exaltar, como quem já se habituou a lidar com ela. "Que barreira eu vou romper agora? O que ainda posso fazer de irreverente? Gritar?", questiona.
E responde: "Não. Gritei quando isso era uma expressão válida, quando representava arma contra o regime e contra tudo o que estava acontecendo a mim e aos meus amigos exilados. Agora, o grito não faz mais nenhum sentido".

Gal divide bem as duas principais facetas que a colocaram entre as maiores artistas da história da nossa música. Diz que "se adequou" ao tropicalismo "muito mais com o coração e a alma do que com a cabeça".

Mais do que uma artista experimental, ela diz, sua vocação é para o canto, em sua essência mais pura. "Não me cobre atitude, cobre música."

Com o passar do tempo, e especialmente nessa última década, os shows de Gal pelo país tenham ficado cada vez mais raros. Atualmente, sua carreira está mais baseada em turnês internacionais, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.

Ainda assim, ela não considera o afastamento anormal. Conta que passou por períodos de reclusão no passado. "Estava conversando disso com [Gilberto] Gil: hoje, principalmente por causa da internet, tudo é tão rápido que, se você não estiver presente todo o tempo, parece que você acabou", diz.

Mas Gal quer reverter essa impressão de ausência ainda neste ano. Está providenciando um apartamento em São Paulo, já que "quando se quer meter a cara no trabalho, tem que ser nas grandes capitais". E prepara show novo, "para matar a saudade das pessoas aqui no Brasil", em que vai revisitar o próprio repertório.

"Sou uma mulher que já passou dos 60 anos e meu grande trunfo é minha voz", diz. "Ela continua inteira, cristalina, jovem. Acompanha minha alma, meu coração e meu espírito. Canto com o mesmo tesão. Quando eu estrear, você vai dizer se assina embaixo do que estou dizendo."

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Gal Costa espera Caetano Veloso para produzir novo CD
Universal Music tem interesse em editar o trabalho




















Diretor de produção de "Cantar" (1974), Caetano Veloso se mostrou interessado em fazer o mesmo serviço no próximo álbum de Gal Costa.

"Há pouco tempo, Caetano foi a um show meu na Europa e conversamos muito. Foi nesse dia que ele me contou da vontade de me produzir de novo", diz a cantora. "Estou pronta. Espero o e-mail, o telefonema dele. Assim que ele disser que chegou a hora, eu vou."

Os dois não fazem um grande trabalho em dupla desde a trilha sonora de "Tieta do Agreste", filme dirigido por Cacá Diegues em 1996 que renderia até alguns shows pelo Brasil.
Ainda não há nada formalmente acertado a respeito do lançamento, mas, segundo a Folha apurou, a Universal Music -mesma gravadora que tem Caetano em seu cast desde 1967- já demonstrou interesse em editar o disco.

Reedições

Também sai pela Universal, até o final deste ano, uma caixa de CDs remasterizados com todos os álbuns que Gal gravou sob sua permanência na gravadora Philips/Polygram.

O material percorre o período mais importante da carreira da cantora, entre a estreia dela em LP com "Domingo" (1967), emblematicamente gravado em dupla com Caetano, e sua saída da empresa, na sequência do lançamento do pop "Baby Gal" (1983).

Assim, vão estar na caixa o tropicalista "Gal Costa" (1969), antológico primeiro álbum solo da cantora, o registro ao vivo "Fa-Tal - Gal a Todo Vapor" (1971), que fez dela a musa da contracultura nos anos 1970, e os posteriores "Índia" (1973), "Cantar" (1974) e "Gal Canta Caymmi" (1976), que saem também em versões ao vivo.

Um CD extra vai trazer material raro, como as faixas lançadas pela cantora apenas em compactos e material nunca antes editado.

O projeto está sob os cuidados do pesquisador Marcelo Fróes, que fez trabalho similar com a obra de Gilberto Gil há mais de uma década. É ele quem assinará os textos explicativos dos encartes.


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Fonte: Jornal Folha de São Paulo, por Marcus Preto – em Salvador (BA). Edição 28/03/2010.
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http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u712565.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u712563.shtml

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